Na última sexta-feira, 30 de agosto, o Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA) recebeu a delegação de Genebra do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Para ampliar as perspectivas de diálogo e ação entre os dois comitês, o encontro reuniu também professores à frente de programas da Universidade Federal do Ceará (UFC), que pesquisam o tema da violência no Estado.
Com a presença da delegação de Genebra (Suíça) do CICV em Fortaleza durante a semana passada, o CCPHA articulou o encontro para fortalecer o diálogo sobre as atividades de comum interesse das duas instituições, que se norteiam pela redução e prevenção dos homicídios no Ceará, como assim pontuou Valentina Torricelli, chefe do escritório do CICV em Fortaleza. “Queremos um referencial de análise de contexto e entender os fenômenos, na medida em que cada um pode contribuir com a mitigação das consequências humanitárias da violência armada aqui”, comenta.
Diante das possibilidades de troca, o deputado Renato Roseno, relator do CCPHA, destaca o aprendizado que o Comitê pode ter a partir do trabalho do CICV desenvolvido no Ceará, como os programas de acesso seguro a serviços públicos em territórios violentos, treinamento de forças de segurança em direitos humanos e de desaparecidos. “O que nós queremos aprender, acima de tudo, é prevenção da violência no território. O território tem muito a nos ensinar. É no território que as coisas podem se alterar, no acesso aos serviços públicos, garantia de direitos”, afirmou.
Parcerias pela mitigação da violência
As consequências da violência armada motivaram a abertura de escritório do CICV em Fortaleza, em 2018, quando foi iniciado o diálogo com autoridades para implementação dos programas. “Um dos fatores que aproximaram o CICV de Fortaleza foi a possibilidade de abertura das autoridades e sociedade civil de trabalhar o tema da violência armada. Isso é importante para nós, porque trabalhamos em parceria”, explica Valentina Torricelli. A exemplo da parceria que o CICV mantém com a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Estado, Renato comenta sobre o desafio da mobilização de gestores públicos por um plano de médio e longo prazo nos municípios e nos Estados pela prevenção de homicídios na adolescência, além da mobilização da opinião pública pelo fortalecimento de uma cultura de direitos humanos.
Para ampliar o debate sobre o contexto da violência no Estado e os caminhos a seguir, o CCPHA também convidou parceiros especialistas no assunto, como os professores da UFC Luiz Fábio Paiva e João Paulo Barros, respectivamente do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) e do Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (VIESES). O professor João Paulo apresentou pesquisas do grupo que tratam da pobreza multidimensional e a precarização da vida, principais fatores da produção de morte das periferias de Fortaleza, que atingem principalmente jovens. O professor Luiz Fábio Paiva comentou suas análises sobre a gênese das facções no Ceará e as dinâmicas da juventude em meio ao conflito armado dos grupos criminosos.
Fotos: Dário Gabriel / Assembleia Legislativa do Ceará