O Ceará teve, pelo menos, 49 chacinas no período de uma década. É o que mostra levantamento inédito do Comitê de Prevenção e Combate à Violência da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), publicado nesta sexta-feira (08/08). O último caso registrado ocorreu na cidade de Itapajé, onde quatro homens foram mortos a tiros na madrugada da quinta-feira (31/07).

A coleta de dados foi realizada durante os meses de junho e julho de 2025, a partir de uma busca documental em notícias veiculadas pela imprensa, considerando chacinas como episódios com quatro ou mais homicídios ocorridos de forma simultânea ou em sequência, em um mesmo contexto.

Entre os anos de 2015 e 2025 (até 31 de julho), foram identificadas 255 vítimas das chacinas, que ocorreram em 26 cidades cearenses, sendo 13 episódios em Fortaleza. Alguns episódios ganharam projeção nacional, a exemplo dos crimes que ficaram conhecidos como Chacina do Curió (2015) e a Chacina das Cajazeiras (2018), com 11 e 14 vítimas, respectivamente.

Os casos reverberam até hoje. Nos dias 25 de agosto e 22 de setembro de 2025, serão levados a júri 10 PMs acusados de atuar no massacre conhecido como Chacina do Curió. Outros 14 PMs foram absolvidos e 6 foram condenados.

Dinâmica da violência armada
Os dados mostram como a dinâmica da violência armada no Ceará tem se constituído ao longo da década. Os anos de 2017 e 2018, por exemplo, concentram o maior volume de episódios, com oito chacinas a cada ano. Em contrapartida, anos como 2016 e 2019 apresentaram apenas um caso cada.

Municípios como Sobral, Quiterianópolis, Cascavel, Viçosa do Ceará, Maranguape, Milagres e Quixeramobim viveram episódios de violência armada, muitas vezes ligados a disputas entre facções criminosas, ações de vingança ou represálias, além de operações policiais.

“É o fenômeno da interiorização da violência, característica que tem figurado no cenário da violência letal no Estado”, destaca Thiago de Holanda, coordenador técnico do Comitê de Prevenção e Combate à Violência. “A interiorização desafia as narrativas que associam os altos índices de letalidade às capitais e grandes centros urbanos. Ela aponta para uma reconfiguração do mapa da criminalidade, em que a atuação de grupos armados, inclusive facções criminosas, tem ampliado seu alcance territorial”.

Em 2024, o Comitê publicou nota técnica a “A interiorização do aumento dos casos de homicídios” e os desafios que acarretam este movimento. Confira aqui a nota.

Cuidando em rede
Como parte das ações de monitoramento da dinâmica da violência no Estado e do esforço de contribuir para o fortalecimento da rede de atenção às vítimas de violência armada, o Comitê tem trabalhado para elaboração de protocolos de atendimento às vítimas de violência, por meio de uma proposta de capacitação e estratégia de intervenção para os profissionais que trabalham nos diversos pontos da rede de atenção.

Como resultado, em 2025 têm sido realizadas formações, articulações, além da divulgação das publicações “Guia Cuidando em Rede – Fluxo de atendimento às vítimas de violência armada e proteção às pessoas ameaçadas” e “Cuidando em Rede – Construindo fluxos de cuidado para vítimas de violência armada”