Esta é a última semana da Formação “Cuidando em rede: saberes e práticas na atenção às famílias de vítimas de homicídios”, para agentes públicos da Saúde e Assistência Social de Fortaleza. Iniciada em julho e dividida em duas turmas, a formação foi voltada para cerca de 1000 profissionais, concluída com um módulo que compreende todo o conteúdo e as experiências trocadas entre facilitadores e participantes ao longo do curso, na perspectiva de atuação em rede no atendimento das duas áreas.
Nesse último módulo, “Práticas de prevenção às violências: fluxo de atendimento e pactuação para ações em rede”, a turma se divide em grupos para apresentar casos de famílias e adolescentes em situação de vulnerabilidade, que tenham chegado aos equipamentos públicos de saúde e assistência em que trabalham. A partir de suas experiências e com base na sensibilização dos módulos anteriores, discutem em grupo suas análises sobre encaminhamentos, desafios e resoluções desses casos.
“A formação cuidando em rede para mim, como pedagoga e coordenadora de um CRAS num lugar de alta vulnerabilidade, me ensinou cada dia mais. Muitas vezes a gente se encontra meio perdida, devido aos encaminhamentos, e o curso proporcionou conhecer outras redes e outros recursos, outras pessoas que fazem parte do nosso dia a dia que não conhecemos”, afirma Nereide Lima, coordenadora do CRAS Serviluz.
O relato de Nereide sinaliza o retorno positivo dos participantes sobre a metodologia de unir profissionais das duas áreas. De acordo com Thiago de Holanda, coordenador da equipe técnica do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), a finalização da formação “foi sistematizada de forma a mostrar a possibilidade, dentro dessa rede e num contexto de violência armada, que os profissionais podem contar com aquelas instituições e serviços próximos ao território, para poder fazer um bom atendimento às famílias de vítimas de homicídios”, completa.
Atuação em rede na prática
Thiago enfatiza ainda que, além da atuação dos profissionais na ponta, a rede também dispõe de um componente do sistema de justiça, a Rede Acolhe, programa da Defensoria Pública do Estado do Ceará que garante assistência jurídica e psicossocial a famílias de vítimas. “Dentro dessa diversidade de possibilidades, o diálogo com a Rede Acolhe traz uma retaguarda aos profissionais para encaminhamento dos casos” afirma Thiago.
“As pessoas que são atendidas circulam por todos esses equipamentos. Então, quando a gente atua em rede, fortalece a atuação de todos os equipamentos”, reforça a psicóloga da Rede Acolhe, Jéssica Cavalcante, que facilitou o módulo “Diálogos sobre metodologias e experiências na atenção integral à famílias de vítimas de homicídio” e contou a experiência do programa, que atua diretamente com os equipamentos públicos de assistência do município.
Conhecer o trabalho do Comitê e a pesquisa sobre as redes de assistência social e saúde de Fortaleza, realizada junto com o Instituto OCA e apoiada pela Open Society Foundations, também trouxe outra perspectiva sobre a violência e as vulnerabilidades que atingem as famílias atendidas. “Quando a gente começa a ver realmente que foi estudado, pesquisado, que tem estatísticas, que as políticas estão voltando o olhar para esse público, aí eu começo a ter outra visão das pessoas que estão lá no presídio, a menina que namora com o cara que trafica. A gente já volta para o serviço com outra conduta”, comenta Ticiana Alcoforado, terapeuta do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Penitenciário.
A conclusão do curso mira na permanência e continuidade dos aprendizados colhidos, em coletivo. Assim reflete Luis Fernando Benício, psicólogo e integrante do Instituto OCA, que facilitou o último módulo. “Em diálogo com os profissionais, percebemos diversos deslocamentos produzidos pelos módulos do curso. Fizemos uma caminhada coletiva, aproximando pessoas, provocando discussões pertinentes e, principalmente, produzindo respostas em redes para a problemática da violência e seus efeitos no cotidianos dos territórios” aponta Fernando.