A violência letal está migrando da capital para outras cidades e tem crescido entre as meninas. Os dados estão no Relatório do primeiro semestre de 2018 do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), divulgado no dia 13 de novembro, durante audiência pública que discutiu prevenção de homicídios, dentro da programação da I Semana Estadual de Prevenção aos Homicídios de Jovens no Ceará.
Se por um lado houve redução de 15% no número de adolescentes mortos em Fortaleza no primeiro semestre de 2018, por outro houve migração de homicídios para cidades menores, com 10 municípios concentrando 70% dos homicídios no Estado. No total, 514 adolescentes foram assassinados no Ceará nos primeiros seis meses do ano.
Outro dado preocupante é o aumento no número de meninas assassinadas: pelo segundo ano consecutivo, os homicídios de adolescentes do sexo feminino cresceram mais de 400% em Fortaleza, chegando a 41 mortes no primeiro semestre.
O aumento de homicídios de mulheres já havia sido apontado no relatório consolidado de 2017, elaborado pelo Comitê. Naquele ano, 80 meninas foram mortas no Estado, revelando uma alta de 196% em relação ao ano anterior. Apenas na capital cearense esse percentual foi de 417% em relação a 2016. Para se ter ideia, em 2015 o homicídio de meninas representava 2,5% do total das mortes de adolescentes no Estado; já no primeiro semestre representou 20%.
Para o coordenador técnico do CPPHA, Thiago de Holanda, a não elucidação desses crimes prejudica a compreensão desse fenômeno, mas há algumas hipóteses para esse crescimento nos últimos dois anos como a marcação de gênero/feminicídio, o rompimento de relacionamento com jovens que integram grupos armados; o relacionamento com pessoas que integram ou moram em territórios de grupos rivais; além da dinâmica da violência armada que tem sofrido alterações com a expansão das facções no estado. “O que a gente vê é que há um aumento maior da vulnerabilidade de meninas à violência letal, que antes não era tão frequente – existiam várias outras violências nesse grupo mas a letal não chegava tanto e tem chegado”.
Para Thiago, o enfrentamento a essa situação passa pela prevenção. “A prevenção secundária tem que chegar ao público vulnerável. Se hoje as meninas também estão vulneráveis então a política tem que chegar também nelas e se adequar a algumas demandas que elas trazem, tem que ter medidas que atravessem uma politica de gênero, tem que se criar políticas mais sofisticadas para proteção de mulheres ameaçadas de morte por seus companheiros e mais adequadas no sentido de garantir a proteção”.
O coordenador do escritório do UNICEF, instituição integrante do CCPHA, avalia que o relatório consolida dois fenômenos que já vinham sendo acompanhados: o crescimento de homicídios entre as meninas e a interiorização dos homicídios. “São dois fenômenos distintos e igualmente preocupantes. Isso nos dá a possibilidade de elaborarmos as diretrizes de um novo plano de trabalho para 2019/2020, focado justamente nesses dois pontos: como apoiar pequenos e médios municípios do Ceará a fazerem a prevenção de homicídios; como implementar as recomendações do Comitê no município de Fortaleza e como prevenir a tempo – para que não cresça – o número de meninas mortas”.