Dois espaços referenciais para o Ceará nas áreas de cultura e de formação artística receberão nessa sexta-feira, 13 de maio, a partir das 9 horas, alunos de Fortaleza que participam do primeiro ciclo dos Encontros Escolares Cada Vida Importa, iniciativa do Comitê de Prevenção e Combate à Violência, da Assembleia Legislativa. Uma visita ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e à Escola Porto Iracema das Artes encerrará as atividades sobre prevenção de homicídios realizadas com cerca de 90 estudantes, 45 da Escola de Ensino Fundamental e Médio Professor Jociê Caminha de Meneses, do bairro Bom Jardim, e 45 da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Padre Marcelino Champagnat, do bairro Barroso.

A visita começará pelo auditório da Escola Porto Iracema das Artes, onde os alunos terão a oportunidade de se expressar sobre os encontros promovidos pelo Comitê de Prevenção e Combate à Violência. Ali, os estudantes também vão se deparar com a representação final dos “mapas afetivos” dos respectivos bairros, consolidada a partir dos “traçados” feitos e elementos apresentados durante os trabalhos desenvolvidos em sala de aula com a equipe do comitê. Na sequência da atividade de encerramento do ciclo de encontros escolares, o Planetário Rubens de Azevedo, do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, estará com a entrada liberada para os estudantes experimentarem uma vivência do espaço solar.

Tanto o encerramento do primeiro ciclo dos Encontros Escolares Cada Vida Importa quanto a metodologia dos “mapas afetivos” foram planejados para tornar mais atrativa e lúdica a discussão de um tema especialmente delicado, que é a violência letal. Os “mapas afetivos” que serão apresentados identificam os locais dos bairros dos alunos que eles consideram seguros ou violentos. “É interessante perceber que alguns lugares, como as praças, aparecem ora como espaços de segurança, ora como espaços também de violência”, observa o arte-educador Joaquim Araújo, articulador comunitário do comitê.

O “mapa afetivo” ou “cartografia afetiva” é um instrumento de pesquisa sobre determinado espaço que valoriza os relatos e os registros das pessoas que vivem ou convivem ali. É potencialmente também um instrumento de intervenção, na medida em que, por meio dele, identificam-se necessidades e potencialidades daquele local. O “mapa afetivo” não é necessariamente um mapa na concepção literal, mas um mapeamento que busca simplificar o acesso aos sentimentos dos indivíduos, facilitando que eles expressem, pela fala ou por desenhos, emoções, experiências pessoais ou coletivas, impressões, interpretações, percepções e sensações sobre um lugar.

“Nos encontros realizados até agora foram debatidas várias questões que atravessam o cotidiano dos alunos, sobretudo, na sua maioria, a experiência da dor da perda de familiares, amigos e conhecidos em função da violência, mas também sobre lugares de refúgio e segurança. E a escola se destacou como um local seguro e de refúgio, além dos seus lares, ao lado de seus familiares”, acrescenta a assistente social Franciane Santos, também articuladora comunitária do Comitê de Prevenção e Combate à Violência.

Os encontros escolares sobre prevenção de homicídios integram uma das frentes de ação consideradas estratégicas pelo comitê: sensibilização e formação. As atividades começaram a ser realizados em 2022, como uma proposta dos articuladores comunitários da equipe, profissionais que mantêm uma relação de maior aproximação com as comunidades. Em cada escola, os articuladores promovem dois encontros com os alunos e uma atividade de encerramento. Até o fim do ano, o comitê pretende realizar mais três ciclos de encontros, contemplando outras nove escolas da rede pública de Fortaleza, três por ciclo.

Os encontros procuram estimular os estudantes a manifestar as percepções e os sentimentos sobre insegurança e violência no lugar onde moram, mas também a refletir sobre tais fenômenos a partir do conhecimento produzido pelo Comitê de Prevenção e Combate à Violência. “Logo no começo, apresentamos nossos materiais de leitura para estimular o debate e o pensamento sobre estratégias de enfrentamento à violência e de outras possibilidades de existência, de uma vida vivível e digna. Alguns professores já sinalizam que, a partir do nosso primeiro encontro, começaram a usar em sala de aula o material produzido pelo comitê que deixamos nas escolas e que tem sido boa a aceitação dos alunos”, observa Franciane Santos.

Cada atividade tem uma programação e metodologia específicas, que envolvem debate e exposição de ideias ou de estratégias de enfrentamento à violência. “O objetivo é estimular e refletir coletivamente com os estudantes e gestores as ações pedagógicas para prevenção à violência em seus territórios a partir das suas vivências e sociabilidades”, explica a articuladora comunitária do comitê. “Nos encontros já realizados, tanto os alunos da Escola Jociê Caminha de Meneses quanto os alunos da Escola Padre Marcelino Champagnat pediram a continuidade dessas ações”.

Apesar das agruras denunciadas pelos próprios estudantes acerca do complexo fenômeno de insegurança e violência, sobretudo para jovens pobres e negros moradores das periferias, o contato tão próximo com os alunos tem sido empolgante para Franciane Santos. “Eu só sei que já estou encantada com os alunos. Em pouco tempo, já temos uma relação afetiva. Eu vou com muito gosto para essas atividades. Amo demais meu trabalho, apesar de ouvir muitos relatos dolorosos e de violência”.

Na avaliação da assistente social, a experiência inaugural reforça a compreensão sobre a necessidade de se dar prosseguimento aos Encontros Escolares Cada Vida Importa. “Temos a convicção de que esses encontros deverão permanecer, pois a nossa presença nesses espaços fez muita diferença, levando discussões que, na maioria das vezes, não são tratadas em sala de aula, apesar de atravessarem a vida dos estudantes. É imprescindível inserir a discussão da prevenção à violência na escola e a partir dela, já que esse tema tem sido uma realidade para a maioria dos alunos, ainda mais sendo da periferia, racializados e empobrecidos, que sofrem cotidianamente tanto com a violência letal por parte dos agentes do Estado como com a violência letal territorial”.

Clique aqui para acessar os Mapas Afetivos criados pelos estudantes das escolas do Bom Jardim e Barroso.